Lords of Chaos: Um filme sobre o Black Metal norueguês

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Assim que assisti ao filme pela primeira vez me veio pensamento de escrever uma análise para postar aqui no blog, porém como estava sem computador na época, resolvi esperar um pouco, aproveitando para deixar a "poeira baixar", já que nas vésperas do lançamento não se parava de falar sobre o assunto.

Lords of Chaos
é um filme baseado em histórias reais e fictícias, logo na abertura do mesmo o diretor (Jonas Akerlund) deixa algo bem claro sobre a obra: "baseado em verdades e mentiras". O enredo se baseia na cena do Black Metal norueguês, girando em volta dos principais nomes que marcaram essa histórica (e trágica) cena.

Já escrevi sobre a polêmica trajetória da banda Mayhem aqui no Mortalha (clique aqui para conferir), inclusive abordei todo o contexto que é mostrado no filme em tal matéria, porém utilizei fontes confiáveis, que retratam os fatos exatamente como aconteceram (em parte, pois só sabemos de um lado de história), diferentemente do filme que mesclou a realidade dos fatos com acontecimentos idealizados pela produção do mesmo, o que causou grande polêmica entre os fãs do Black Metal, principalmente os mais "tr00", rendendo críticas até mesmo do Varg Vikernes, idealizador do Burzum, eis algumas de suas palavras acerca da obra:

"Então, você assistiu a 'Lords of Chaos', filme que tem um ator judeu e gordo me interpretando. A propósito, sou escandinavo... o ator judeu e gordo diz coisas no filme que eu nunca falei. Recebeu coisas que eu nunca recebi. Fez coisas que eu nunca fiz. Fez coisas por razões que eu nunca tive. Conheceu pessoas que eu nunca ouvi falar", afirmou. [...]"

"Euronymous realmente teve uma namorada? E Euronymous realmente cortou o próprio cabelo? Euronymous era um homossexual não-assumido. Ele não havia saído do armário ainda, mas todos sabíamos. Isso deixou ridícula a personagem inventada Ann-Marit. Ele não tinha namorada, ninguém da cena lembrava desse nome ou do personagem mesmo que remotamente. Provavelmente, ele era gay. [...]"

"Euronymous não cortou o próprio cabelo antes de ser assassinado. E acho que o cineasta chegou a essa bizarra conclusão - e inventou a história - porque viu um laudo de autópsia. Lá, dizia que Euronymous estava sem cabelo porque quando a autópsia foi feita, tiveram de cortar o cabelo devido a um grande ferimento na cabeça, por eu tê-lo matado com uma facada na testa. Minha faca ficou presa, eu tive que tirá-la porque ficou através de seu crânio. O buraco era tão grande que dava para ver as partes amarelas do cérebro, mas, ainda assim, alegam que ele sangrou até a morte após múltiplas facadas [...]"

Mas enfim, não estou aqui para falar do que realmente aconteceu na época, afinal só sabemos uma parte da história, já que a outra versão foi para o caixão junto com Euronymous. Estou aqui para comentar acerca do longa-metragem, que na minha opinião trata-se de um ótimo filme, então, vamos ao que interessa, lembrando que relatarei apenas meu ponto de vista, irei ressaltar apenas os pontos mais relevantes da trama.

A obra tem como narrador e (aparentemente) protagonista: Euronymous (o fundador da banda Mayhem), logo nas primeiras cenas do longa o mesmo comenta acerca de seu país, sua cidade e sua banda, fazendo um breve resumo de forma sarcástica para o telespectador do que está por vir.

O começo do filme, ironicamente, chega a ser tranquilo comparado aos conflitos que surgem no desenrolar da história, podemos ver alguns jovens músicos se divertindo e tentando ganhar espaço através de sua controversa arte. Logo no início, enquanto Euronymous organiza a formação da banda, eles recebem um envelope de um sujeito que se auto intitula "Dead", que vem a ser o vocalista oficial da banda. 

Desde sua primeira aparição percebemos que o mesmo sofre de sérios distúrbios mentais, sendo obcecado pela morte, o mesmo costuma enterrar suas roupas para deixa-las com um aroma pútrido, se automutila durante as apresentações, tem um fetiche mórbido por cadáveres de animais dentre outras bizarrices que não citarei aqui (fazendo jus à personalidade do vocalista na vida real, de acordo com os fatos).


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Para quem já conhece a história da banda é evidente o que acontece em seguida, nem chega a ser um spoiler, com apenas vinte minutos de filme nos deparamos com a cena agonizante do suicídio do vocalista, retratado da forma mais fiel possível à realidade, incluindo ainda o bilhete que foi deixado pelo mesmo antes de se matar: "desculpe pelo sangue".


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Após o acontecimento, Necrobutcher (o baixista da banda) decide sair fora por conta do comportamento doentio de Euronymous, que além de fotografar o cadáver do amigo morto (capa de um dos álbuns), ainda usou pedaços de seu crânio para confeccionar colares que viriam a ser usados pelos integrantes da banda.


Entre diversos conflitos, Varg Vikernes surge na trama, no início demonstra um comportamento retraído vindo a ser alvo de zombarias dos parte dos outros integrantes da banda e é ignorado a princípio, porém o mesmo começa a "criar uma nova identidade" e fazer o seu próprio som (a banda de um homem só, Burzum), o que vem a impressionar Euronymous que o convida para fazer parte de sua marca (Deathlike Silence Records).


É importante ressaltar também a fundação do "Inner Circle", idealizado por Euronymous, uma espécie de sociedade secreta do qual apenas um grupo seletivo fazia parte (aqueles que estavam por trás da cena do Black Metal na época), a partir daí as coisas se tornam um pouco mais sombrias.

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Como o álbum de lançamento do Burzum (a banda de um homem só, de Varg) não fez muito sucesso, foi necessário realizar uma nova jogada de marketing. Em uma conversa particular com Varg, é ressaltado por Euronymous que o cristianismo se apossou da Noruega, um país originalmente cristão, ele aponta seus ideais (que não citarei aqui) e confidencia que o certo a se fazer seria queimar cada uma das igrejas cristãs daquele território.

Vikernes não pensa duas vezes, sozinho realiza o ato (surpreendendo mais ainda Euronymous), com isso, consegue fazer com que seu álbum se torne um sucesso e, através de seu brilho, ofusca a popularidade do Mayhem. O acontecimento isolado gera uma rebelião em massa, incontáveis igrejas são incendiadas sem que se saiba a real autoria dos atentados, o que vira literalmente um caos, deixando todos os moradores em pânico e virando o assunto principal das manchetes dos jornais da época.

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Aqui as coisas começam a ficarem interessantes, enquanto Euronymous fala, Varg faz, então os dois começam uma disputa de ego para ver quem é "mais maligno", enxergo essa parte como uma divisória na narrativa do filme, já que Vikernes toma o lugar que antes era ocupado por Euronymous, o último por sua vez demonstra-se bastante incomodado com o que está acontecendo, já que busca a todo custo levar crédito por tudo, afinal, ele quem foi "o criador do verdadeiro Black Metal". Enquanto o mesmo enxerga os crimes como uma forma de ganhar atenção, Varg leva isso como uma causa pela qual lutar, por esse motivo ambos entram em divergência.

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É perceptível que Euronymous não se sente confortável com o que está acontecendo, participa de alguns dos atentados às igrejas apenas para não ser ovacionado pelos amigos, porém um tempo depois demonstra arrependimento pelos feitos, segundo o mesmo: tudo estava indo longe demais, atordoado, confuso e paranoico com a ideia de a polícia estar o perseguindo, acaba por fechar sua loja de discos (Helvete) e se mudar, visando seguir uma carreira solo, como consequência de afastar-se do círculo, Varg toma o seu posto de líder.


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Após isso Vikernes decide levar o "Inner Circle" a publico e revelar à imprensa detalhes sobre os atentados às igrejas, visando demonstrar sua revolta perante ao domínio cristão imposto na Noruega e expor a sua "causa". O mesmo acaba sendo preso e interrogado, mas por falta de provas é liberado. Euronymous sente-se afrontado e irritado pelo fato de Varg ter feito o que fez, expondo-o e colocando todos sob a mira da polícia, então no auge de sua raiva deixa escapar um comentário de que irá torturar e matar Varg (mais em tom de ironia do que seriedade). Aproveitando todos os holofotes da mídia voltados para o Inner Circle, Euronymous vê uma oportunidade de divulgar mais ainda seu trabalho, falando para a imprensa que ele foi o idealizador de tudo, levando no final os créditos por tudo, o que deixa Vikernes mais revoltado.

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Euronymous passa os direitos autorais do Burzum para Varg e decide abandonar a antiga vida, recomeçando tudo do zero, investindo em uma carreira solo, mudando até mesmo a aparência. Vikernes acaba por levar a ameaça a sério e faz uma viagem junto com um dos integrantes do Mayhem até o apartamento de Euronymous na desculpa de assinar os documentos pendentes, resolvendo por vez a situação, porém o que acontece não é exatamente isso, o desfecho do filme é previsível e desnecessário comentar. Para os que não conhecem a história da banda recomendo que assistam ao longa.


TRAILER OFICIAL:


Por fim, o que tenho a dizer é que há tantas verdades na obra quanto mentiras, o enredo por um lado foi fiel a uma parte dos acontecimentos reais, já outros foram distorcidos para se encaixar melhor no formato cinematográfico, o filme pode decepcionar quem já está por dentro dos acontecimentos e introduzir (de uma forma distorcida) aqueles que não conhecem a verdadeira história. 

O enredo dá a entender que Euronymous foi uma vítima, porém não enxergo dessa maneira, apesar de ter escolhido mudar seu rumo, o mesmo fez isso um pouco tarde e acabou pagando por suas palavras e ações. O que não podemos negar é que tais acontecimentos marcaram a história do Black Metal, não apenas norueguês, mas no mundo inteiro, servindo de inspiração até hoje para muitos outros artistas.

Vale ressaltar mais uma vez (para evitar críticas desnecessárias) que nessa matéria expressei apenas o meu ponto de vista acerca da obra, você leitor, tem todo o direito de concordar ou discordar, sinta-se a vontade para expressar também as suas opiniões e pontos de vista nos comentários, afinal, só quem sabe o que realmente aconteceu foram os envolvidos, e como disse no início do texto, não estou aqui para falar sobre os acontecimentos reais, e sim sobre a obra, que em minha opinião foi muito bem produzida, vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões.


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