A preparação do corpo do defunto para a última viagem englobava um
aspecto importante, o qual era geralmente por ele determinado quando
da elaboração do testamento. Por meio do estudo analítico de uma
amostra de 250 testamentos bracarenses do século XVIII, tornou-se possível
avaliar, ou pelo menos antever, o momento em que seus restos mortais eram
envolvidos nas vestes que o amortalhavam.
É certo que nem sempre as determinações dos testadores eram respeitadas na íntegra. Mas como esses casos eram a exceção, e na falta de outras fontes documentais, cremos que os dados obtidos em testamento refletem em grande medida a realidade.
Ao longo dos séculos, as mortalhas utilizadas pelos defuntos, com as quais eram sepultados,conheceram uma evolução importante. Se, na Idade Média, pelo menos desde o século X, os defuntos eram geralmente revestidos com um simples sudário ou lençol, a partir da Idade Moderna difundiu-se no mundo católico o costume de amortalhar os cadáveres com o hábito de uma ordem religiosa.
O uso dos hábitos referentes aos santos fundadores ou padroeiros de uma
congregação religiosa, como mortalha, tinha uma função cristã escatológica.
O objetivo era garantir a intercessão desse santo junto a Deus, como forma
de assegurar a salvação eterna do indivíduo que envergasse essa veste envolvendo seus restos mortais.
A análise dos dados compulsados demonstra uma preferência notória pela
escolha do hábito de São Francisco de Assis. Cerca de 41% dos indivíduos de
nosso estudo solicitaram esse hábito como a única veste de sepultamento.
Todavia, se considerarmos também os testadores que incluíram a veste franciscana em conjunto com outra mortalha, constatamos que 56% deles escolheram o hábito de São Francisco de Assis para serem amortalhados.
Esses resultados estão longe de ser surpreendentes, uma vez que se enquadram em uma tendência geral verificada em Portugal e na Europa católica da época moderna, patenteada por vários estudos que têm vindo a colocar em evidência sua preponderância entre as mortalhas.
A razão para o impacto do hábito franciscano deveu-se à divulgação de uma crença, iniciada ainda na Idade Média e confirmada pelo Vaticano, que certificava a concessão de indulgências extraordinárias, garantias da salvação da alma, aos indivíduos que o envergassem após a morte.
Ou seja, o hábito franciscano adquirira um cariz seguro de salvaguarda,
relativamente à salvação da alma dos homens e mulheres da Idade
Moderna, tornando-se um elemento incontornável nessa ocasião.
Seu uso era também uma forma de manifestação de humildade e despojamento, pois São Francisco de Assis fora, em vida, um modelo de pobreza e de humildade cristãs.
Desse modo, as garantias salvíficas concedidas pelo uso dessa mortalha,
bem como a projeção de uma imagem pessoal de pobreza e humildade após
a morte, quando, por vezes, essa imagem em nada tinha correspondido à vida
do falecido, serviam como esperança e consolo para os defuntos, crentes na
certeza da salvação.
"A partir da Idade Moderna difundiu-se no mundo
católico o costume de amortalhar os cadáveres com o
hábito de uma ordem religiosa"
Por este ser um texto bastante extenso e que abrange muitos fatos histórico, dentre estatísticas, deixarei o link do artigo completo e original em pdf para que vocês, meus caros leitores, façam um bom proveito e reflitam acerca de tal questão, são dezesseis páginas de muita informação relativa ao assunto.
Esse artigo se prende muito as raízes cristãs, porém se não me engano, as mortalhas eram um costume existente desde o antigo Egito durante as populares práticas de embalsamento de múmias, mas isso é assunto para outra postagem, no mais, fiquem com o artigo completo que aqui está sendo abordado:
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