Charlie Brooker comenta sobre a abertura da série: "Se tecnologia é uma droga — e parece ser uma droga — então quais são, precisamente, os efeitos colaterais?" Esta área — entre prazer e desconforto — é onde Black Mirror, minha nova série dramática, se passa. O "espelho negro" da abertura é o espelho que você encontrará em cada parede, em cada mesa, na palma de cada mão: a tela fria e brilhante de uma TV, de um monitor, de um smartphone"
Black Mirror é uma série de televisão britânica, desenvolvida por Charlie Brooker, série essa que possui a ficção científica e o terror psicológico como temática, a série aborda de forma satírica um futuro com uma tecnologia bem mais avançada do que a que possuímos e, convenhamos, que bem mais problemática. Podemos perceber muitas críticas relacionadas à nossa maneira de viver atualmente, com todo o conforto (muitas vezes ilusório) da evolução tecnológica, o vício em redes sociais (que só parece aumentar) e os malefícios que essa tecnologia pode causar, nos levando a refletir por um tempo o "por que" de sermos tao apegados à tais coisas materiais ao ponto de parecermos escravos das mesmas.
A série possui atualmente três temporadas, as duas primeiras lançadas em 2011/2013 respectivamente, ambas exibidas pela emissora Channel 4.
Charlie Brooker, idealizador da série.
(Ironicamente) graças à atenção que a série chamou, a terceira temporada passou a ser transmitida em 2016 pela Netflix, conquistando um público maior e se popularizando ainda mais. Cada episódio conta com um elenco, uma realidade (enredo) e personagens diferentes, (quase) todos possuindo o mesmo clima tenso e atmosfera mórbida.
As duas primeiras temporadas tiveram ambas apenas três episódios (além de um especial de natal), cada um mais inovador que o outro, porém, a terceira contou com o dobro, isso é, seis episódios. Ao ser atribuída à Netflix muitos telespectadores acreditaram que a série perderia uma parte de sua originalidade, mas parece que isso não atrapalhou em nada o desempenho de Charlie Brooker.
Cenas finais do primeiro episódio da primeira temporada de Black Mirror, intitulado "National Anthem".
A quarta temporada já foi encomendada pela Netflix e está prevista para o final deste ano de 2017, a quantidade de episódios será a mesma da terceira temporada, e segundo Brooker, trará a mesma atmosfera de tensão misturada com o medo e a controvérsia presente nas temporadas anteriores.
Black Mirror já chega com estilo em seu primeiro episódio (National Anthem), onde a princesa do Reino Unido é sequestrada e em troca de sua liberdade e integridade física os sequestradores nao exigem dinheiro algum, apenas que o primeiro-ministro pratique zoofilia em rede nacional para todo o país e o mundo assistir (uma maneira bem peculiar de "trollar" um político), o fato logo viraliza por meio da mídia e das redes sociais e atrai atenção do mundo inteiro.
O que acontece? Se tiver estômago, assista e descubra.
Outro episódio que mexeu de certa forma com meu psicológico (e com certeza a de muitos que assistiram) foi o Fifteen Million Merits, segundo episódio da primeira temporada, que aborda uma estranha realidade onde as pessoas vivem praticamente escravizadas em um tipo de sistema tecnológico onde a única tarefa que devem cumprir é pedalar em bicicletas ligadas em monitores eletrônicos que contabilizam pontos (o que parece ser a moeda utilizada em tal universo), simulando nos monitores jogos interativos.
Cenas do segundo episódio da primeira temporada, intitulado "Fifteen Million Merits"
Cada personagem possui um avatar virtual e podem participar também de um programa televisivo de talentos (o que lembra bastante programas como o XFactor, The Voice, entre outros do mundo real), ao participar de tal programa, o protagonista do enredo percebe que a realidade é bem mais suja (digamos assim) do que ele imaginava, descobrindo que até os que não querem ser vistos ou tratados como produtos, são vistos e usados dessa maneira.
Uma forte crítica ao material fútil produzido pela televisão e a sociedade que consome esse mesmo material, se tornando alienada de uma maneira extrema. O episódio é uma hipérbole dos tempos modernos, mostrando até que ponto o ser humano pode chegar graças as evoluções tecnológicas.
Outro episódio que não poderia faltar nessa matéria é o primeiro da segunda temporada, intitulado "Be Right Back" um dos mais bizarros ao meu ver pelo fato de abordar sentimentalismo e tecnologia com uma linha bem tênue. Em um futuro (talvez não muito distante), um programa de computador capta todas as lembranças registradas de alguém que já morreu e simula um bate papo onde é possível conversar até mesmo através de chamadas de voz.
Cenas do primeiro episódio da segunda temporada
Mas as possibilidades tecnológicas vão muito mais além, o episódio aborda o tema "Inteligencia Artificial", e o tal programa de computador apresenta um projeto que permite o ente querido reencontrar o amado(a) falecido(a) na vida real, se trata de um androide semelhante a um ser humano, semelhante até demais, sendo capaz de falar, conversar, interagir, beijar e até mesmo manter relações sexuais.
O clima desse episódio é muito tenso graças a presença do androide, que se mostra inofensivo no início, mas com o desenrolar do enredo se torna perceptível o quão é difícil adaptar-se à um relacionamento (principalmente amoroso) com quem não esta mais vivo.
Assisti a série diversas vezes, são muitos os episódios que gostei e poderia comentar aqui, mas prefiro deixar que descubram sozinhos para finalizar, o episódio que me vem em mente é o segundo da terceira temporada, intitulado "Playtest", abordando o universo da realidade virtual.
Temos nesse episódio da mais recente temporada (até agora) um rapaz norte-americano que, necessitando de dinheiro, busca novas oportunidades em Londres até que se propõe a participar de um futurístico sistema de jogos virtuais que apresenta a ideia de jogar dentro da própria mente um jogo de horror que tem funcionamento através de um implante realizado no cérebro.
O que começa de uma forma divertida e até atraente acaba se tornando um pesadelo, como o implante no cérebro capta a memória para ser utilizada na reprodução do cenário do jogo, o rapaz vai parar em um lugar onde seus piores medos se reproduzirão por meio da realidade virtual.
Cenas do segundo episódio da terceira temporada, intitulado "Playtest"
Eis aí mais um episódio com uma proposta bastante original e seguindo os parâmetros da tecnologia, mostrando onde até a mesma pode chegar, compactuando bem a ideia de terror psicológico (de um modo literal).
Black Mirror lembra bastante outro seriado televisivo, esse por vez de 1959 intitulado "The Twilight Zone" com uma temática e abordagem semelhante, seus episódios também não possuem cronologia ou ligação no enredo e o elenco também é variado.
Black Mirror, porém se trata se uma série atual que teve início alguns anos atrás e promete ainda muita inovação, resta a nós esperar pela quarta temporada e rever os outros episódios, quanto a você que ainda não assistiu recomendo adicionar a série a sua lista. Prepare o psicológico, quem sabe uma pipoca e um café, depois aperte o play.
David Alves Mendes
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