Lilith, a primeira mulher de Adão


Lilith, John Collier (1892).

O livro de Gênesis é bastante debatido em seus primeiros capítulos que se referem à criação humana. Existem questionamentos quanto ao termo “à nossa imagem e semelhança” estar no plural e não no singular, outros questionam a criação do homem ter sido feita do barro, ou o porquê de Eva ter sido feita da costela de Adão. Mas uma questão incomum é a presença de uma figura feminina chamada Lilith no momento da criação do ser humano, fato tão presente na cultura judaica (e também no folclore hebreu, na mitologia Suméria entre outros lugares), porém tão negligenciada pela versão atual da Bíblia Sagrada. Nos dias atuais, Lilith só é citada uma vez na Bíblia, em Isaías 34:14 (ver comentário a respeito ao longo do texto), e mesmo assim, só em versões mais antigas das escrituras.

Lilith, ou Lilit (em hebraico: לילית) é principalmente conhecida como um demônio feminino da mitologia Babilônica que habitava lugares desertos. Os primeiros registros que se tem dela é sob o nome Lilitu, representando uma categoria de demônios na Suméria de 3000 A.C. Na Suméria e na Babilônia ela ao mesmo tempo que era cultuada, era também identificada como espírito maligno.

 Muitos estudiosos atribuem a origem do nome fonético Lilith por volta de 700 A.C., e com este nome é referida em diversos textos antigos sendo o mais notável o Antigo Testamento (livro de Isaías). Porém uma teoria interessante é a de que Lilith tenha sido uma mulher criada por Deus antes de Eva, simultaneamente à criação de Adão e inclusive da mesma forma que ele foi criado (do barro). 

Ou seja, Lilith pode ser sido a primeira esposa de Adão, antecessora a Eva.


A Queda de Adão e Eva. Michelangelo Bounarotti (1509)

Lilith, ou Lilit (em hebraico: לילית) é principalmente conhecida como um demônio feminino da mitologia Babilônica que habitava lugares desertos. Os primeiros registros que se tem dela é sob o nome Lilitu, representando uma categoria de demônios na Suméria de 3000 A.C. Na Suméria e na Babilônia ela ao mesmo tempo que era cultuada, era também identificada como espírito maligno. Muitos estudiosos atribuem a origem do nome fonético Lilith por volta de 700 A.C., e com este nome é referida em diversos textos antigos sendo o mais notável o Antigo Testamento (livro de Isaías). Porém uma teoria interessante é a de que Lilith tenha sido uma mulher criada por Deus antes de Eva, simultaneamente à criação de Adão e inclusive da mesma forma que ele foi criado (do barro). Ou seja, Lilith pode ser sido a primeira esposa de Adão, antecessora a Eva.

“Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1:27.

Porém, no capítulo seguinte, Deus percebe que Adão está sozinho (novamente?) e seria bom criar para ele uma mulher (outra?), e interessante, que seja idônea (a outra não era?): 

“Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.” Gênesis 2:18. 

A confusão interpretativa si dá a partir do momento em que Deus cria o homem (ser humano) no primeiro capítulo fazendo-o macho e fêmea, e logo depois no capítulo 2, Ele cria uma (outra?) mulher, não mais do mesmo barro, mas agora da costela de Adão: 

"E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.". Gênesis 2:22

Dessa forma, é possível imaginar que uma alteração (censura) possa ter sido feita entre o capítulo 1:28 e o capítulo 2:21. É provável que este corte tenha ocorrido em época bastante remota, como no quarto século antes de Cristo, quando se supõe que o texto escrito tomou uma forma próxima da atual. O capítulo 1:28 sustenta ainda mais esta hipótese: 

"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra ..." Gênesis 1:28

Como seria possível abençoar a ambos e recomendar a multiplicação se Eva ainda não tinha sido criada (só foi criada no segundo capítulo)? E o caso fica ainda mais estranho no versículo seguinte, na criação da (segunda) mulher criada da costela, quando Adão parece gostar da (nova) mulher criada e faz um comentário bem peculiar:

"Disse então o homem: Esta sim (ou ‘agora sim’, em algumas versões), é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada." Gênesis 2:23

Assim, acredita-se que essa afirmação de Adão é uma das provas da existência de outra fêmea criada antes de Eva, que provavelmente não era carne da sua carne. Tendo, a mulher anterior, sido criada do mesmo barro que ele, seria assim igual, e não inferior a Adão.


Lilith é muito conhecida na cultura judaica. Segundo eles acreditam, a mulher criada do barro juntamente com Adão se mostrou indomável, maléfica e teria deixado a presença de Adão, e então expulsa do Paraíso. Algumas vezes ela é tida como a serpente que teria tentado Eva, a mulher que teria casado com Caim (Gênesis 4:17), uma vampira, uma sedutora que castrava os homens que seduzia, e por fim, um bicho maléfico ou animal noturno, termo encontrado nas traduções recentes da Bíblia (Isaías 34:14). 

Por sinal é neste versículo em Isaías onde o nome Lilith é citado unicamente na Bíblia atual. Mesmo assim, mais recentemente, teria sido trocado por coruja (em inglês) ou (como aqui no Brasil) animal noturno. Acredita que durante o Concílio de Trento (ou muito antes disso), a Igreja Católica retirou as menções a Lilith do Gênesis, e teria deixado seu nome passar apenas nesse versículo em Isaías (como na versão de J. N. Darby abaixo).

“As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si.” 

Isaías 34:14 – Versão Almeida Corrigida.

“The wild beasts of the desert shall also meet with the wild beasts of the island, and the satyr shall cry to his fellow; the screech owl (coruja que grita) also shall rest there, and find for herself a place of rest.” 

Isaías 34:14 – Versão King James.

“And there shall the beasts of the desert meet with the jackals, and the wild goat shall cry to his fellow; the lilith also shall settle there, and find for herself a place of rest.”

Isaías 34:14 – Versão John Nelson Darby.

Acredita-se que o motivo da Igreja Católica ter suprimido a criação (e posterior rebelião) de Lilith seria uma das tantas tentativas da igreja de dar o tom "patriarcal" às escrituras. Deixando claro o lugar da mulher de submissa, abaixo hierarquicamente ao homem. Sem contar que deixar passar uma criação, tal qual a de Adão, e que não deu certo, que acabou se rebelando pelo próprio criador e se tornando um demônio, uma maldita, não seria muito “católico”, por assim dizer.

“Deus teria criado um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria sido Lilith, figura bastante conhecida da antiga tradição judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de reivindicar igualdade foi a de recusar a forma de relação sexual com o homem por cima. Por isso, fugiu para o Mar Vermelho. Adão queixou-se ao Criador, que enviou três anjos em busca da noiva rebelde. Os três anjos eram Sanvi, Sansanvi e Samangelaf. Os emissários do Senhor tentaram em vão convencer à fujona. Ameaçaram afogá-la no mar. (...) Lilith foi transformada em um demônio feminino, a rainha da noite, que se tornou a noiva de Samael, o Senhor das forças do mal. (...) Lilith seria uma figura sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos. (...) Finalmente, uma outra tradição judaica afirma que a lendária rainha de Sabá que teria visitado Salomão nada mais era do que Lilith. O sábio rei, contudo, descobriu o ardil, ao levantar a saia da rainha e constatar que as suas pernas eram peludas.” 

Jardim do Éden revisitado, Roque de Barros Laraia.

Sendo Lilith realmente uma criação de Deus, a primeira mulher de Adão, ou apenas mais um ser demoníaco citado na Bíblia, o importante é salientar (mais uma vez) que isso não muda em nada o fato de existir um Deus supremo criador. O problema é que com o tempo, viemos modificando as escrituras, e interpretando-a de uma forma que coloca a figura de Deus de um lado e Satanás do outro como seu único arque rival. O que possivelmente está errado. Vários são os seres que lutam contra Deus e seus anjos, e Lilith (criação dEle ou não, deixando claro que Satanás  também é criação de Deus) pode ser apenas mais um desses seres das trevas.

"Além dos demônios que povoavam e aterrorizavam a terra, alguns personalizados, como Azazel (Lev 16:9), Lilith (Is 34:14), Asmodeu (Tob 3:8), entre outros, o Deus hebraico tinha oponentes em sua própria corte, dos quais o mais célebre é Satã."

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:12


Adaptado de O Estranho Curioso

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