Lembro de quando cheguei aqui, não estava assim.
Levantei da poltrona, todos tinham sumido. As luzes estavam apagadas, algumas piscando. Eu não ouvia mais nada, era tudo silencioso, silencioso até demais. Caminhei até a porta, ela estava escancarada para trás, foi então que senti aquele cheiro podre.
Não estava entendendo mais nada quando empurrei a porta para trás e quando pus os pés para fora daquela sala cheguei a sorrir, pois só podia ser piada. As paredes estavam marcadas com sangue e era dali que exalava o cheiro ruim.
Sempre fui uma pessoa séria e metida a corajosa, mas aquilo estava realmente estranho.
Dei passos lentos até o outro corredor, nunca tinha me dado conta de como aqueles corredores eram compridos, longos corredores completamente brancos, marcados com sangue e com um cheiro desagradável. Estava me sentindo em um labirinto.
Logo que virei no próximo corredor tomei um susto, mas acabei rindo de mim mesma, era só meu reflexo no espelho.
Tentei abrir a porta da recepção, mas estava trancada, lá dentro havia um telefone. Tentei abrir a porta de saída, também estava trancada... Aquilo estava começando a ficar sem graça. Meu celular e chaves de casa tinham sumido de meus bolsos.
“Que merda tá acontecendo aqui?”
Senti o coração apertar quando ouvi batidas vindo de outro corredor, foi apenas um susto. Então ouvi som de correntes vindo de mais um corredor, por algum motivo aquele som me deixou um tanto nervosa. Do lado das correntes, também ouvi passos, por um momento senti um alívio cair sobre mim, não estava sozinha. Sem pensar duas vezes fui em direção ao som dos passos e ao chegar no outro lado, eu gelei...
Era a mulher que eu sempre via... Aquela mulher magra, alta, pálida, loira com cara de louca... Ela sempre tentou me matar...
Ela sorriu para mim com aquela expressão que fazia meu sangue parar de circular. Em suas mãos carregava uma corrente e caminhava em minha direção vagarosamente...
Aquela garota metida a corajosa? Acabou de sumir... Corri em direção ao outro corredor e tudo que ouvia era as gargalhadas dela.
Corri, corri o mais rápido que pude para longe daquele corredor. Achei uma porta aberta e me refugiei ali, tranquei a porta. Fui até um armário e me escondi nele, como uma criança desesperada. Fechei meus olhos e respirei fundo, só podia estar delirando de novo... Tudo se silenciou novamente.
Uma respiração pesada e lenta começou... Podia senti-lá a frente do meu rosto, muito próxima... A respiração tocava minha face até que ouvi ao pé do meu ouvido:
-Abra seus olhos...
A respiração ficava mais forte e começaram batidas na porta. Espremi os olhos, não queria ver o quê era e naquele momento me arrependi de ter me negado; Algo gelado tocou meu rosto e começou a puxar meus olhos para abri-los. Acabei abrindo...
Sorriu com as mãos grudadas em meus olhos e tudo que consegui fazer naquele momento foi chorar. Não sabia se aquilo era uma pessoa, um animal, um monstro...
A porta do armário abriu.
Por que fugiu? - Ela perguntou rindo.
Pegou-me pelos pés e me arrastou para fora do armário. O outro ser segurou meus braços e a mulher entregou a corrente para o outro, ele me prendeu e ela sentou em cima de mim. Puxou meus olhos novamente para que ficassem abertos e começou a sorrir psicoticamente.
4, se concentra em minha voz.
Com um dos dedos a mulher começou a passar a unha dentro do meu olho.
3, respira fundo.
A agonia me tomou conta. A unha começou a forçar contra meu olho.
2, nenhuma ferida é real .
A dor e a angustia já me consumiam. A unha estava perfurando meu olho e sentia o sangue escorrer por meu rosto.
1, Rosemary, acorda!
Abri meus olhos mais uma vez, agora tudo estava diferente: Todas as luzes acesas, apenas cheiro de limpeza e o som de tudo funcionando. Katherine, minha psiquiatra, estava a minha frente com aquela expressão preocupada rotineira. Eu tentei levantar, mas a camisa de força atrapalhou.
A consulta acabou, o enfermeiro me acompanhou até meu quarto enquanto eu observava aquele corredor longo e branco, agora limpo.
Entrei no meu dormitório e sentei em minha cama esperando que chegassem com os sedativos.
Senti uma picada, logo uma tontura e meus olhos começaram a ficar pesados. O enfermeiro tirou minha camisa de força e me deitou na cama, logo que saíram fechei os olhos, mas algumas batidas me impediram de dormir de vez. Levantei um pouco a cabeça para ver o quê era... Lá estava ela... Sorrindo e acenando do outro lado da porta...
Rose, estou te esperando.
Autora: Larissa Medeiros
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