Triste

No interior de uma pequena cidade, existia um lugar triste. Um lugar triste e solitário. O lugar era um amontoado de cômodos brancos, que em vão tentava passar certo ar de tranquilidade.Na recepção, existia uma mulher loira, sorridente e educada, treinada para lidar com a atmosfera daquele lugar.

Ela sempre parecia feliz, sempre…

No entanto se você chegasse mais perto, se se aproximasse o bastante para observar seus olhos, você veria uma sombra crepuscular que dançava naquele semblante jovem e belo. A palavra para a sombra nos olhos dela? Medo.O mais sincero e doentio medo que você pode imaginar.


Era algo que todos aqueles que cruzavam os portões de ferro imenso, e adentravam em um jardim belo circundando por belas árvores, e com um caminho de paralelepípedos que levava até o hall de entrada, tinham em comum, eles todos tinham medo. Mesmo os que iam até o lugar triste somente para ter o que comer mesmo os que só iam visitar os poucos que moravam lá, e que eram acessíveis a algum tipo de contato (porque a maioria dos que lá estavam não podiam ver nada, ou ninguém, além de suas celas retangulares, e dos homens vestidos de branco que os alimentavam).

Todos temiam esse lugar.Porque algo se arrastava na claridade da luz do dia, ou nas sombras disformes da noite, algo malvado, que se alimentava da loucura dos que lá moravam. A maioria das pessoas não podia ver “o algo”, mas podiam senti-lo. Sentiam algo grande e anormal que escorregava através das paredes sempre brancas do lugar triste, sentiam algo os observando através de olhos escuros e sem vida, olhos sombrios e provocadores, olhos predadores.

E, além disso, alguns dos que lá moravam, e somente eles eram capazes, viam “o algo”.
Esses tinham sua tristeza multiplicada, tinham seus medos multiplicados, suas doenças e loucuras multiplicadas, e isso deixava “o algo” feliz, por que ele se alimentava do medo das pessoas, o monstro, alimentava-se das pessoas.

O monstro tinha muitas formas, às vezes ele era pequeno como uma garotinha, uma garotinha banhada em sangue, outras ele era grande, imenso na verdade, uma coisa assombrosa que poderia se alimentar de um homem facilmente. Aquilo sempre estava presente no lugar triste, porque onde havia tristeza, medo, ou ódio, onde houvesse uma faísca de sentimentos ruins, o monstro estava lá, no entanto, ele manifestava-se mais facilmente nas sombras da noite.

E por isso as pessoas tristes que lá estavam gritavam, gritavam como pessoas com medo, medo de verdade, mas não importa o quanto eles gritassem, os outros que lá iam somente para colocar a comida na mesa, não os ajudava, porque para eles, a tristeza dessas pessoas estava além de qualquer tipo de ajuda.

O monstro levou muitas pessoas tristes embora, as levou com ele para o lugar escuro, o lugar do qual somente o monstro pode voltar. Tudo bem, você não deve se preocupar com o monstro, pode olhar para trás, ele não estava ai, a poucos passos de você olhando com aquele olhar faminto e psicótico, não ele não esta ai, talvez você consiga senti-lo, mas só as pessoas tristes podem vê-lo…

Mas tome cuidado, porque às vezes o monstro pode te fazer ficar triste, e quando isso acontece, ele leva você embora, para sempre.

Autor: Bruno Henrique

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