American Psycho (ou Psicopata Americano) é um daqueles filmes ao qual sua linha de raciocínio segue naturalmente até chegar em certo ponto onde tudo fica confuso, e no final você já não entende mais nada que esta acontecendo.
"Sinopse: Patrick Bateman (Christian Bale) jovem, bonito e sem nada que o diferencie de seus colegas de Wall Street. Protegido pela conformidade, privilégio e riqueza, Bateman também é um serial killer que vaga livremente e sem receios em busca de uma nova vítima. Seus impulsos assassinos são abastecidos por um zeloso materialismo e uma inveja torturante quando ele encontra alguém que possui mais do que ele. Após um colega dar-lhe um cartão de visitas melhor que o seu em tinta e papel, a sede de sangue de Bateman surge e ele aumenta ainda mais suas atividades homicidas, tornando-se um perigoso e violento psicopata."
Algo muito comum, duvido que alguém realmente tenha entendido tudo na primeira vez que assistiu, eu por si, refleti por alguns momentos e imaginei algumas teorias, até que decidi apelar para a internet, assim pude tirar conclusões precisas sobre o filme. O mesmo foi baseado em um livro com o mesmo título, do autor Breat Easton Ellis, acredito que a leitura do livro ajuda na compreensão geral do filme.
Deixarei aqui uma análise que achei bastante interessante, a retirei do blog Calibre Cultural, a análiste foi escrita pelo autordo blog, Mark. Confiram:
"American Psycho (2000) é um filme inspirado no livro homônimo de Bret Easton Ellis e conseguiu a façanha de se igualar (e para alguns até mesmo superar) a obra original. Apesar de se encaixar na categoria “drama”, é difícil dar um rótulo para o longa, já que ele é daqueles que desperta sensações diferentes em cada espectador, podendo ser considerado desde “uma comédia com muito humor-negro” até “apenas mais um filme trash que não deve ser levado a sério”.
O protagonista, Patrick Bateman, interpretado genialmente por Christian Bale (aquele que faz o Batman) é um yuppie (nome dado aos jovens empresários do final do século passado) que possui tudo de melhor que o capitalismo pode oferecer: um bom emprego, uma noiva, amigos da classe alta, um caro apartamento no centro de Manhattan e trabalha na firma do pai. O problema é que Bateman não suporta tudo isso e, durante o dia, veste uma máscara de bom moço perante a sociedade, ao passo que à noite destina-se a liberar seu ódio das mais diversas formas.
Quem nunca se meteu em uma briga tão feia com algum amigo que, no auge da raiva, não sentiu vontade de mata-lo? Pois bem, para o protagonista os motivos não são assim, pessoais. Um amigo, prostitutas, mendigos e até mesmo a secretária são vítimas em potencial. Ele deseja apenas se livrar, de alguma forma, do marasmo vivido no cotidiano.
As cenas de violência possuem requintes de crueldade. Mas não me refiro a torturas ou terror psicológico, e sim aos trejeitos de Bateman. Quem começaria uma cena de assassinato perguntando “Você gosta da banda Huey Lewis & the News?” Monólogos acerca da trajetória de bandas e cantores são o assunto preferido do protagonista antes de acabar com suas vítimas. Claro, isso depois de as deixarem bem à vontade e de ter servido seu mais caro champagne. E aqui entra a parte da “comédia”.
Bateman é tão insano que de vez em quando ele solta umas pérolas que, de tão inusitadas, ficaram marcadas como bordões do personagem e são citadas como recurso humorístico entre os que gostaram do filme. “Não toque no relógio! / Don’t touch the watch!” e “Sabrina, don’t just stare at it, eat it. / Sabrina, não fique apenas olhando, coma.” com certeza são exemplos memoráveis, apensar de, na minha opinião, a mais clássica ser a desculpa repetida com certa frequência, mas nunca concretizada: “I have to return some videotapes. / Eu tenho que devolver algumas fitas.” É uma desculpa universal! Então, quando estiver em alguma situação constrangedora e quiser dar o fora, já sabe o que falar, é só trocar “fitas” por “Dvd” ou “Blu-Ray” (não me surpreenderia se os expectadores mais novos não soubessem do que se trata uma “fita cassete”, mas em caso de dúvida é só jogar no google).
Além das falas existem outros recursos a favor do humor negro, como ver o personagem principal tão feliz a ponto de fazer um moonwalk, com um machado na mão, vestido com uma capa de chuva (para proteger o terno de grife do sangue) e ao som do pop americano dos anos 80. E também algumas “armas”, como uma feita com um secador, que mais parece saída de um desenho animado com temática espacial do que pertencente a um serial killer.
As partes de morte em si não são tão explícitas, de modo que não consigo achar que seja um filme forte no ponto de vista visual (porque no psicológico ele é, e falarei disso mais tarde). Claro que se você botar seu priminho de 14 anos para assistir ele vai ficar com medo, mas as cenas são muito mais leves que as de um “Jogos Mortais” (que já não choca muita gente), por exemplo.
Toda a composição da obra é feita para criticar o “American Way of Life” (estilo de vida americano) que se espalhou pelos Estados Unidos no começo da Guerra Fria para provar que o capitalismo era superior ao comunismo. Porém, no meio de tanto consumismo, compromissos e culto à imagem, onde fica o espaço para os sentimentos de cada um? Preencher a todos os pré-requisitos da sociedade é garantia de felicidade? Todas essas questões estão nitidamente retratadas em Bateman, e com a pior resposta possível. O personagem é narcisista ao extremo e, como já dito no começo do texto, possui todos os aspectos materiais que alguém da época poderia desejar. Mas lhe falta algo muito importante, uma coisa que não pode ser comprada: sua humanidade.
“Eu sou desprovido de sentimentos humanos, apenas sinto ganância e inveja”, reflete Patrick durante uma sessão de massagem. Desse modo creio que as mortes sejam apenas um meio desesperado encontrado por ele para tentar descobrir a si mesmo, encontrar algum sentido para aquela sua vida programada, vazia, como se a morte alheia justificasse sua própria existência. Esse “vazio” é retratado de uma forma bem peculiar pela direção do filme: na decoração do apartamento. O local onde Bateman mora é completamente branco. Pisos, móveis, talheres… E o único momento em que o local ganha alguma coloração, algum tom de vida, é quando tingido como sangue das vítimas. E não seria essa uma metáfora para o que se passa na mente do jovem empresário?
Pode-se dizer ainda que seu lado psicopata é um impulso inconsciente de desafiar o sistema que o entedia e o aprisiona. É como se ele estivesse gritando ao longo de todo o filme “Olhem eu gosto de matar pessoas, mas eu faço tudo que vocês mandam e sou rico, então não tem problema, certo?” E não precisa ir muito longe para comprovar que essa linha de raciocínio perdura até hoje. No Brasil mesmo, tomemos como exemplo os políticos. É só comparar o enorme número de denúncias e escândalos com as quase nenhuma prisões. Duvido que alguém nunca tenha ouvido a máxima “Quem é rico não vai preso nesse país” ou algo similar. Dessa ótica, pode-se dizer que o autor criou o personagem para mostrar o quão o sistema pautado nas classes sociais pode ser injusto.
O enredo, à primeira vista, não possui nada de genial, de modo que o foco fica por conta dos sentimentos e ações do jovem psicopata. E não há dúvidas de que o filme seria péssimo se o ator principal não desse conta do personagem. Não é à toa que esse foi o primeiro papel a dar credibilidade a Christian Bale sendo que, para muitos, sua atuação é o único atrativo de American Psycho. É um ponto de vista do qual discordo, apensar de compreender o porquê de algumas pessoas se apoiarem nele.
Bom, para eu defender o motivo de achar o filme forte psicologicamente e também defender que ele possui muito mais do que apenas a genial interpretação de Christian Bale eu preciso falar do final. Então, cuidado, a partir de agora esse post contará com SPOILERS. Então se ainda não viu o filme, veja o filme e depois volta aqui.
O filme se encerra com Bateman dizendo todas suas loucuras a seu advogado, que além de o chamar por outro nome (fato que ocorre algumas vezes durante o filme) acaba por desmentir um dos assassinatos cometidos pelo personagem. Com isso vemos um close nos olhos atônitos do protagonista enquanto ele pensa “Essa confissão não significou nada” e créditos rolando na tela.
Acho que nem Einsten entenderia de primeira esse final. Eu, por exemplo, fiquei putíssimo e me perguntando “COMO ASSIM!?” enquanto batia a cabeça na parede. A primeira coisa que fiz foi recorrer ao google, mas não tinha nenhuma fodendo análise que “explicasse” o que aconteceu. Então, o que eu fiz? Criei minha própria hipótese. Duas delas, por sinal.
A primeira é a de que as mortes nunca ocorreram de verdade, apenas na mente de Patrick. Faço uso de alguns pequenos trechos do filme para comprovar isso. Primeiro, ele era louco. E isso é um fato, já que o vemos tomando comprimidos regulados antes de fazer sua primeira vítima (o coitado do Jared Leto). Segundo, os corpos que ele guardava no apartamento de Phill não estavam mais lá quando ele foi posto à venda. Claro que a imobiliária poderia ter apenas removido os cadáveres e não ter levado o caso a público, porque isso com certeza diminuiria o valor do imóvel. Mas o culpado sairia ileso, sem sofrer nenhuma consequência? Quando Bateman entra com uma máscara e vai direto ao local onde os corpos deveriam estar guardados e é pego pela mulher que está apresentando o apartamento aos possíveis compradores fica óbvio que ele é culpado. Então por que não foi preso? Porque os corpos nunca estiveram ali para começo de conversa, oras.
E o terceiro e mais relevante fator é sua agenda, encontrada pela secretária. Nela estão desenhados vários corpos mortos de diversas maneiras possíveis e, se você prestar um pouco mais de atenção, verá que as mortes mostradas durante o filme estão entre elas. Então, creio que todos os assassinatos que aconteciam em sua mente de forma tão real a ponto de ele não saber se eram delírios ou realidade materializavam-se naquela agenda. Como se ele tivesse apenas desenhado as mortes e achado que elas realmente ocorreram. Em uma cena ele está esta fazendo abdominal enquanto passa “O Massacre da Serra Elétrica” na TV e, na cena seguinte, ele mata uma prostitua com uma serra elétrica tirada sabe-se não sei da onde. Não acredito que seja mera coincidência, e sim fruto de sua imaginação. Algo semelhante ao que ocorre quando algo relevante acontece no seu dia e você sonha com aquilo de noite.
Outro ponto é o de que Bateman é o serial killer menos serial killer da história do cinema. Ele deixa rastros por toda a parte, de modo que o detetive apresentado na trama foi chamado de burro/incompetente inúmeras vezes pela minha pessoa até eu me tocar de que ele simplesmente não tinha as provas já que elas existiam apenas na cabeça do protagonista, e por isso não fora preso. É o caso de quando Patrick arrasta um corpo em um saco de lixo, deixando um caminho de sangue por onde passa que não é visto pelo porteiro nem por mais ninguém.
A outra hipótese, mais “viajada”, é a de que o protagonista possui dupla personalidade. Isso porque ao longo de todo o filme ele é chamado por vários nomes, e apenas a secretária e a noiva o conhecem como “Patrick Bateman”. Então, na verdade, ele seria qualquer um dos figurantes apresentados e “Patrick Bateman” seria o nome dado ao seu alter ego doentio. Não tenho argumentos o suficiente para desenvolver mais essa ideia e teria de rever o filme algumas vezes para fazê-lo, mas para quem busca sua própria interpretação para o final, eis aí um ponto de partida.
Então, só posso concluir que, ao dizer “Essa confissão não significou nada” o protagonista está falando com você, sim, com o espectador, e a confissão é o próprio filme. Uma belíssima quebra da quarta barreira. Já que quase ninguém “entende” o final do longa (e digo isso pressupondo que minha primeira hipótese seja correta, mesmo sendo apenas uma hipótese) é como se o filme todo, como se aquela confissão, realmente não tivesse valido a pena pois o espectador não compreendeu o que se passou na mente doentia de Bateman, e provavelmente ninguém nunca o compreenderá por completo (a não ser o autor do livro).
American Psycho é um convite à loucura que requer uma boa dose de interpretação e um certo abandono da sanidade para que possua algum significado além da evidente crítica socioeconômica do cenário estadunidense que marcou o final do século XX. O filme é a inspiração de obra mais atuais, como o seriado Dexter, e figurando como um clássico da década passada com certeza merece ter seus 102 minutos vistos pelo público mais jovem e por aqueles que por ventura deixaram essa obra passar batido até agora.
Eu até escreveria mais, mas preciso devolver algumas fitas!
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